A perovskita vem sendo estudada pela ciência desde a década de 1960, mas apenas há alguns anos teve sua aplicação voltada para a geração de energia elétrica a partir da luz solar. Ela tem potencial como alternativa mais barata e eficiente ao silício, empregado atualmente nos sistemas fotovoltaicos.
Mas, afinal, o que é perovskita? Trata-se de uma estrutura cristalina descoberta pelo mineralogista alemão Gustav Rose em 1839, nos Montes Urais, na Rússia. Seu nome foi uma homenagem ao também mineralogista russo Count Lev Alexevich von Perovski e designa uma classe de materiais. Pode ser puramente inorgânica ou híbrida, com alguns componentes orgânicos, como é o caso das utilizadas em células solares. A família de perovskitas com propriedades fotovoltaicas é composta por um cátion orgânico, um inorgânico, sendo chumbo ou estanho, e um halogênio, sendo iodo, bromo ou cloro.
Algumas perovskitas funcionam como supercondutores e o material exibe outras propriedades interessantes e intrigantes, como ferroeletricidade, ordenação de carga e alta termeletricidade, dentre outras, oferecendo oportunidades estimulantes para físicos, químicos e cientistas.
Em 2016, no Brasil, pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp atingiram o feito de produzir células solares de perovskita no Laboratório de Nanotecnologia e Energia Solar (LNES) durante uma pesquisa que fazia parte da dissertação de mestrado do químico Rodrigo Szostak, orientado pela professora Ana Flávia Nogueira. O estudo foi importante por dois motivos: sinalizou para a possível autonomia do País nesse campo da ciência, uma vez que foi tudo feito sem a colaboração de grupos estrangeiros, e indicou uma eficiência de 13% por parte das células de perovskita (índice semelhante aos 15% das células solares de silício vendidas comercialmente na época). O pesquisador apontou ainda para o potencial do material de se aproximar aos sonhados 33,7% de eficiência.
A última novidade sobre a perovskita foi publicada na revista Joule no início de 2021: pesquisadores do Centro de Nanotecnologias Integradas do Laboratório Nacional de Los Alamos, dos Estados Unidos, desenvolveram uma nova técnica para tornar mais viável comercialmente a produção em larga escala de células solares de perovskita. A nova tecnologia permitiu produzir dispositivos fotovoltaicos de grande área e alto rendimento e eficiência na geração de energia a partir da luz solar, além de demonstrar longa vida útil operacional dos módulos.
Entenda, tecnicamente, como foi o estudo:
- Com a ajuda de pesquisadores da National Taiwan University (NTU), a equipe inventou um método de revestimento por rotação de uma etapa, introduzindo o composto sulfolano como um aditivo no precursor da perovskita e o material líquido responsável por criar o cristal de perovskita através de uma reação química. Como em outros métodos de fabricação, esse cristal foi então depositado em um substrato.
- Por meio de um método de imersão simples, a equipe foi capaz de depositar um filme fino cristalino de perovskita uniforme e de alta qualidade sobre uma grande área ativa em dois minimódulos, um de cerca de 16 centímetros quadrados e o outro de quase 37 centímetros quadrados. Segundo os pesquisadores, um filme fino uniforme em toda a área do módulo fotovoltaico melhora o desempenho do dispositivo. Os minimódulos alcançaram uma eficiência de conversão de energia de 17,58% e 16,06%, uma das melhores já obtidas a partir de células de perovskita.
Acredita-se que o processo poderá ser facilmente adaptado para fabricação escalável em ambientes industriais, fazendo da perovskita uma tecnologia concorrente cada vez mais viável aos sistemas fotovoltaicos à base de silício.
Para ler o artigo na revista Joule acesse https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2542435121000891?dgcid=author.
Faça o download da matéria sobre a pesquisa da Unicamp: https://inovacare.solar/docs/unicamp-perovskita.pdf.
A foto desta matéria é de um outro estudo com perovskita conduzido pelo National Renewable Energy Laboratory (NREL), EUA.
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