A crise da COVID-19 chocou o mundo. Já foram contabilizados milhares de mortos, as pessoas temem sair de seus lares e países enfrentam a pior crise econômica em décadas. Parece surreal, mas em breve a mesma descrição poderá ser usada para uma outra crise global: a da mudança climática. A crise atual é horrível, mas a climática pode ser pior.
Você pode não concordar, mas este não é um artigo sobre medo, mas sobre realidade e esperança. Os números do aquecimento global precisam ser divulgados para que todos se mobilizem o quanto antes e contamos com você, seja interessado na causa sustentável ou profissional da área de energia solar, para nos ajudar a espalhar uma mentalidade preocupada com o meio ambiente e focada em ação – e ação o quanto antes!
Neste ano, você já deve ter ouvido falar sobre projeções de redução nas emissões de gases de efeito estufa decorrente da crise mundial. A esperada queda de 8% com relação a 2019 é verdadeira, mas superestimada. Em termos reais, emitiremos 47 bilhões de toneladas de gás carbônico ao invés dos 51 bilhões do ano passado. É um percentual significativo e seria o paraíso mantermos essa taxa anualmente, mas, infelizmente, não podemos – o preço foi alto demais: mais de 800.000 mortos oficialmente, milhões de desempregados, redução de 50% do tráfego de carros em abril e parada dos aeroportos, para citar alguns exemplos. O que impressiona nos números não é o percentual de queda nas emissões, mas o quão pouco caíram.
Nesta comparação entre catástrofes, vale analisarmos quanto custa para reduzir a emissão de uma única tonelada de gases. Tal valor existe e é utilizado por economistas para comparar os custos de diferentes soluções de sustentabilidade. Tem-se como base uma tecnologia que custa US$ 1 milhão. Se seu uso permite evitar a emissão de 10.000 toneladas de gases, isso significa que o investidor está pagando US$ 100 por tonelada não emitida – é um preço bem alto, mas muitos economistas acreditam que reflete o preço real do efeito estufa para a sociedade.
Agora, analisemos a atual crise sanitária. Será que fechar parcial ou totalmente inúmeros setores da economia gerou uma redução ao menos próxima a US$ 100 por tonelada não emitida? A resposta é um NÃO bem frustrado e sonoro. Apenas nos Estados Unidos, de acordo com dados levantados pelo Rhodium Group, o custo foi de US$ 3.200 a US$ 5.400 por tonelada. Na Europa, praticamente a mesma soma. Em outras palavras, a parada mundial apresenta um custo de redução nas emissões de 32 a 54 vezes mais elevado do que o preço de US$ 100 considerado razoável por economistas.
Se os números não são suficientes para nos mobilizar, consideremos então o custo humano. A taxa de mortalidade da COVID-19 tem sido de 14 em cada 100.000 pessoas. Coincidentemente, trata-se da mesma mortalidade esperada para 2060 apenas em decorrência da elevação da temperatura global. Se reduzirmos as emissões, essa taxa pode cair para 10 em 100.000 pessoas até o final do século. Se as emissões continuarem em alta, em 2100 o aquecimento será responsável por uma taxa de 87 em cada 100.000 pessoas.
Economicamente, até 2030, os prejuízos causados pelos gases de efeito estufa equivalerão a sofrermos uma pandemia sanitária como esta a cada 10 anos.
O que nos resta fazer? Aprender lições desta triste experiência e botar a mão na massa:
- O futuro deve ser liderado pela ciência e inovação. Não dá para reduzir as emissões viajando ou dirigindo menos. Acabamos de observar uma verdadeira corrida em busca de uma vacina. O mesmo esforço deve ocorrer para zerar as emissões na produção de eletricidade, nas indústrias, na agricultura e na promoção do bem-estar das pessoas. Precisamos de sementes novas e outras inovações para preparar os mais pobres para a mudança climática.
- A ciência deve se certificar de que as soluções sejam também viáveis em países pobres, pois, assim como nesta crise, os pobres serão os mais afetados.
- Devemos começar agora! Ao contrário da vacina contra o Coronavírus, que deve estar disponível em 2021, não existe solução com apenas 02 anos de desenvolvimento para a questão climática. Levará décadas para adaptar o mundo e devemos agir com a mesma urgência com que tratamos a COVID-19.
Apesar dos alertas emitidos por algumas autoridades mundiais em saúde, não nos preparamos para uma pandemia. Não façamos o mesmo com o aquecimento global. Ajude-nos hoje mesmo a espalhar a solar. Conscientize seus amigos, conquiste clientes para a solar e espalhe informação, como este artigo.
Fonte: Gates Notes